quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Uma tragédia

Era um dia muito especial, daqueles que só acontece uma vez na vida: o primeiro dia de aula no jardim da infância!
Lógico, meus irmãos e os amiguinhos dele já tinham passado por isso, eu olhava todos os dias as outras crianças indo para a escola e pensava: o meu dia ainda vai chegar. Eu sei que para algumas crianças esse dia era como ir para uma execução sumária, provavelmente eram essas pessoas que eu via chorando na porta da escola porque não queriam entrar. Mas não eu, que me despedi de mamãe e segui de cabeça erguida, com minha lancheirinha. Um dia para ser inesquecível, ao menos para uma pessoa de três anos de idade.
Minha mãe havia preparado com muito carinho meu lanchinho, tinha suco (pois eu detesto café com leite), bisnaguinha com requeijão, biscoito recheado e chocolate, um verdadeiro banquete, só de lembrar minha boca enche d’água.
Quando entramos na escola, a professora, carinhosamente chamada por nós de tia, pediu-nos que deixássemos as lancheiras todas aglomeradas junto com as das crianças de outras salas, acho que era uma espécie de socialização, penso eu, hoje.
Naquela montoeira de sacolinhas, bolsas e lancheiras vi uma exatamente igual a minha. Pensei rápido e coloquei minhas guloseimas do outro lado, bem longe daquela que parecia, mas não era, e fui para a sala de aula.
Estava tudo correndo conforme meus planos, até que quando saímos para o recreio: uma tragédia! Corri em direção a minha lancheira e ela não estava lá, a sala em que estudava a dona do recipiente gêmeo tinha saído antes para o recreio, e ela pegou as minhas delícias.
Como a esperança é a última que a gente mata, pensei que ela havia se enganado e o conteúdo das lancheiras gêmeas era o mesmo, por isso ela não se manifestara, então me dirigi até a outra. Mas, sabemos que isso é impossível, mesmo gêmeos idênticos podem ter personalidades completamente diferentes. Então, ao abri-la entendi porque minha, agora, rival não se queixou de trocar os lanches, quando abri a garrafinha: NÃO! Era café com leite, e para comer um, um não, dois, dois ovos cozidos. Com certeza minha rival trocaria seu lanche por qualquer outro, quando abriu minha cesta de delícias devia ter achado que era seu dia de sorte.
Quanto a mim, fiquei em silêncio. Não conseguia comer aquele banquete ao avesso, aí a tia viu e disse: “coma o seu lanche, sua mãe preparou com tanto carinho para você”. Então eu comi, e bebi também. Logicamente meu estado psicológico influenciou meu aparelho digestivo que não suportou e devolveu, pela mesma via de acesso, tudo o que eu tinha engolido.
Quando mamãe foi me buscar, chorando, contei a ela o ocorrido, no dia seguinte ela fez um escarcéu por mim e minha rival devolveu minha lancheira, claro que depois do recreio.

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