quinta-feira, 8 de novembro de 2007

C! ou o meu outro encontro com a Arte

Ao pensar em escrever alguma de muitas histórias da minha vida sobre ensino e aprendizagem de Arte, porém na posição do aprendiz, do educando e não do educador, muitas ainda assim, me vieram a cabeça, afinal, ainda como educadora, aprendo todos os dias.
Muitas são as aprendizagens significativas na minha vida profissional, como educadora em exposições, aprendizagens de conceitos e artistas novos, de história da arte, na relação educadora/educando com o público... Aliás, muitos destes momentos me vieram na lembrança, porém não achava forma de relatar de modo a produzir este ensaio.
Então, pensei em escrever sobre uma experiência negativa que atravessou minha vida escolar. Bom, também foram muitas.
Estudei em um período, início da década de 1980, em que se privilegiava o fazer. Algumas pessoas se lembram deste período como a aula de Educação Artística sendo utilizada para ensinar e aprender Desenho Geométrico. Mas, na minha escola não. Era uma escola estadual, muito boa, havia ótimos professores e uma matéria especificamente de Desenho Geométrico, de modo que a aula de Artes, para o meu desespero, era de Artes mesmo.
Lembro-me que música pra mim era fácil, afinal tive aulas de piano na minha infância. Nas aulas de teatro também me destacava. Mas o terror era nos trabalhos plásticos, que ocorriam, para meu azar, em três dos quatro bimestres em que se divide o ano letivo.
O grande problema do fazer, hoje percebo, é que a idéia de livre expressão chegou de uma forma deturpada nas escolas. A livre expressão não era tão livre assim, eu não podia pintar o tronco de uma árvore de roxo, por exemplo. Nestes malfadados bimestres, por caridade professoral, sempre tirava nota C. Os meus trabalhos eram, com mais um ou dois colegas, os “piores” da turma.
O acontecimento mais marcante foi quando, depois de já ter estudado cores primárias, secundárias e terciárias, descobri que preto e amarelo fica verde, musgo!
Foi um acontecimento. Lembro-me dos preparativos para esta aula, a técnica que a professora iria ensinar chama-se “craquelê”, nem sei se é assim que se escreve, mas nunca vou me esquecer. Finalmente acreditei que um trabalho meu sairia do rol dos piores, era tão fácil, não poderia jamais dar errado pintar uma peça de uma cor, espera secar, passar outra cor por cima, secar, as tintas fariam o trabalho sozinhas, a tinta que vai por cima, ao secar, vai rachando, craquelando. Muito fácil mesmo.
Fui com a minha mãe comprar um pote de gesso, tipo um porta-jóias, com tampa, lindo, só vendo.Também compramos lixa, uma tinta preta, o betume, e uma tinta craquelex amarela. Preto com amarelo eram minhas cores favoritas, época do new wave, minha mão tinha feito uma calça xadrez pra mim, preta e amarela.
Na primeira aula, lixei o pote e passei o betume. Todos os alunos deixaram seus trabalhos na escola para secar. Na aula seguinte, na mesma semana ainda, pegamos nossos objetos para completar o trabalho. Ah, se eu não me engano, depois de passar a tinta craquelex era preciso envolver o objeto em um saco plástico. Aí era só esperar secar. Fácil, não?
Na aula seguinte, quando fomos pegar nossas obras de arte, um por um fomos vendo os resultados. Alguns ficaram tão bons, que acho que estas pessoas têm seus objetos até hoje. Aí peguei o meu. Um desastre, tinha ficado verde musgo!
Como isso foi possível? Verde era o resultado de azul com amarelo, foi assim que eu tinha aprendido e a professora também, lembro-me da cara de espanto dela, sem saber explicar direito o que tinha acontecido. Resultado: mais um C no meu boletim, por um fazer com resultado diferente do que deveria ter sido segundo a livre expressão.

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