segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

tempo de festas

Outro dia, a Helena estava numa crise violenta, ela queria crescer, dizia que queria ser adulta, pra sair sozinha e dirigir, pra ela, ser adulta é só isso mesmo... Então, eu disse a ela para ter calma e que aproveitasse o tempo, pois quando ela pudesse sair por aí dirigindo na marginal na hora do rush, ia desejar muito voltar a tres 3 anos. Bom, nao disse assim exatamente, mas disse mais ou menos isso. Aí ela me perguntou, o que é o tempo?
Bom, fiz essa cara aí que voce deve estar fazendo: tempo? Meu primeiro olhar foi em direção aos meus livros, pensei, quando ela crescer dou a Montanha Mágica do Thomas Mann pra ela ler (tá que eu nem terminei de ler ainda, e faz uns anos que comecei, o José sabe).

Lógico que nao respondi, mas contei isso aí pra voces, porque queria escrever algo diferente, para pensarmos nessas festas, quando todo mundo tá sem tempo pra fazer compras, assar o pernil ou sei lá o que e, é certo que acredito mais que o ano é novo no nosso aniversário, mas não dá pra negar o clima (não dá mesmo viu, Antonio Carlos, com papai noel tudo).

De forma que, para pensarmos, o que é o tempo? Ou melhor, o que fazemos com o nosso tempo? Não no sentido do tempo que temos, mas NO tempo que estamos, no espaço que vivemos, dos amigos que temos.

Feliz Natal e que 2008 seja simplesmente lindo, no tempo dele, no tempo que fizermos dele.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

C! ou o meu outro encontro com a Arte

Ao pensar em escrever alguma de muitas histórias da minha vida sobre ensino e aprendizagem de Arte, porém na posição do aprendiz, do educando e não do educador, muitas ainda assim, me vieram a cabeça, afinal, ainda como educadora, aprendo todos os dias.
Muitas são as aprendizagens significativas na minha vida profissional, como educadora em exposições, aprendizagens de conceitos e artistas novos, de história da arte, na relação educadora/educando com o público... Aliás, muitos destes momentos me vieram na lembrança, porém não achava forma de relatar de modo a produzir este ensaio.
Então, pensei em escrever sobre uma experiência negativa que atravessou minha vida escolar. Bom, também foram muitas.
Estudei em um período, início da década de 1980, em que se privilegiava o fazer. Algumas pessoas se lembram deste período como a aula de Educação Artística sendo utilizada para ensinar e aprender Desenho Geométrico. Mas, na minha escola não. Era uma escola estadual, muito boa, havia ótimos professores e uma matéria especificamente de Desenho Geométrico, de modo que a aula de Artes, para o meu desespero, era de Artes mesmo.
Lembro-me que música pra mim era fácil, afinal tive aulas de piano na minha infância. Nas aulas de teatro também me destacava. Mas o terror era nos trabalhos plásticos, que ocorriam, para meu azar, em três dos quatro bimestres em que se divide o ano letivo.
O grande problema do fazer, hoje percebo, é que a idéia de livre expressão chegou de uma forma deturpada nas escolas. A livre expressão não era tão livre assim, eu não podia pintar o tronco de uma árvore de roxo, por exemplo. Nestes malfadados bimestres, por caridade professoral, sempre tirava nota C. Os meus trabalhos eram, com mais um ou dois colegas, os “piores” da turma.
O acontecimento mais marcante foi quando, depois de já ter estudado cores primárias, secundárias e terciárias, descobri que preto e amarelo fica verde, musgo!
Foi um acontecimento. Lembro-me dos preparativos para esta aula, a técnica que a professora iria ensinar chama-se “craquelê”, nem sei se é assim que se escreve, mas nunca vou me esquecer. Finalmente acreditei que um trabalho meu sairia do rol dos piores, era tão fácil, não poderia jamais dar errado pintar uma peça de uma cor, espera secar, passar outra cor por cima, secar, as tintas fariam o trabalho sozinhas, a tinta que vai por cima, ao secar, vai rachando, craquelando. Muito fácil mesmo.
Fui com a minha mãe comprar um pote de gesso, tipo um porta-jóias, com tampa, lindo, só vendo.Também compramos lixa, uma tinta preta, o betume, e uma tinta craquelex amarela. Preto com amarelo eram minhas cores favoritas, época do new wave, minha mão tinha feito uma calça xadrez pra mim, preta e amarela.
Na primeira aula, lixei o pote e passei o betume. Todos os alunos deixaram seus trabalhos na escola para secar. Na aula seguinte, na mesma semana ainda, pegamos nossos objetos para completar o trabalho. Ah, se eu não me engano, depois de passar a tinta craquelex era preciso envolver o objeto em um saco plástico. Aí era só esperar secar. Fácil, não?
Na aula seguinte, quando fomos pegar nossas obras de arte, um por um fomos vendo os resultados. Alguns ficaram tão bons, que acho que estas pessoas têm seus objetos até hoje. Aí peguei o meu. Um desastre, tinha ficado verde musgo!
Como isso foi possível? Verde era o resultado de azul com amarelo, foi assim que eu tinha aprendido e a professora também, lembro-me da cara de espanto dela, sem saber explicar direito o que tinha acontecido. Resultado: mais um C no meu boletim, por um fazer com resultado diferente do que deveria ter sido segundo a livre expressão.

Meu primeiro encontro com a Arte ou O Estímulo

Ao pensar no meu primeiro encontro com a Arte preciso pensar no plural, não foi um único momento, mas um conjunto de ações de minha mãe, que desde sempre, me levava ao teatro, ao cinema, me matriculou no curso de piano, contava estórias e me presenteava com livros.
Lembro-me do primeiro filme visto no cinema: Branca de Neve, ela já havia me contado essa estória, eu tinha em um livro dos Irmãos Grimm, e vendo o filme, ainda criança, reparei que o tal do Walt Disney cortara pedaços do conto. Eu preferia a estória do livro que, ainda sem saber ler, acompanhava atentamente a narração pelas ilustrações, e assim que aprendi a ler, o fiz para ter certeza que o longa-metragem omitia fatos.
O piano é um caso a parte, algo que ela sempre sonhou para ela, e isso tem seus pontos negativos também, porém, hoje vejo com carinho. Aprendi a ler partituras antes mesmo de aprender a ler, recordo, e ainda tenho em casa, meu primeiro livro no qual as notas musicais eram figuras no pentagrama, da seguinte forma: dó, um dedo machucado (dodói), ré, um relógio, mi, um gatinho (miau), fá, uma faca, sol, um sol (obviamente, mas radiante), lá, uma laranja e si, um sino. Nunca vou me esquecer.
Na arte de contar histórias minha mãe era mestra, e acho que herdei isso dela!
Desenhar e colorir sempre foi muito bom, mas pintar figuras mimeografadas desde a pré-escola não me fez muito bem. A verdade é que não tenho muitas habilidades manuais. Mas a minha mãe... Ah, ela tinha, pra tudo, pra costurar, tricotar, enfeitar pratos, principalmente no almoço de domingo.
Quando tinha uns 5 ou 6 anos, a vi mexendo em uma caixa sua que ficava no guarda-roupa, Eram desenhos que ela me confessou ter feito e estudado quando jovem. Eu os elogiei e disse, com um tom bastante crítico de uma criança, que eram difíceis de fazer.
Alguns dias depois ela voltou a estudar desenho e pintura num desses cursos livres e, o que sempre me chamou a atenção era a dedicação que tinha ao executar seus trabalhos.
Minha mãe se foi cedo e, quando penso no meu trabalho e nas minhas atitudes, sei que têm muito dos encontros com a Arte que ela me proporcionou, ainda que num período de 14 anos.

Uma tragédia

Era um dia muito especial, daqueles que só acontece uma vez na vida: o primeiro dia de aula no jardim da infância!
Lógico, meus irmãos e os amiguinhos dele já tinham passado por isso, eu olhava todos os dias as outras crianças indo para a escola e pensava: o meu dia ainda vai chegar. Eu sei que para algumas crianças esse dia era como ir para uma execução sumária, provavelmente eram essas pessoas que eu via chorando na porta da escola porque não queriam entrar. Mas não eu, que me despedi de mamãe e segui de cabeça erguida, com minha lancheirinha. Um dia para ser inesquecível, ao menos para uma pessoa de três anos de idade.
Minha mãe havia preparado com muito carinho meu lanchinho, tinha suco (pois eu detesto café com leite), bisnaguinha com requeijão, biscoito recheado e chocolate, um verdadeiro banquete, só de lembrar minha boca enche d’água.
Quando entramos na escola, a professora, carinhosamente chamada por nós de tia, pediu-nos que deixássemos as lancheiras todas aglomeradas junto com as das crianças de outras salas, acho que era uma espécie de socialização, penso eu, hoje.
Naquela montoeira de sacolinhas, bolsas e lancheiras vi uma exatamente igual a minha. Pensei rápido e coloquei minhas guloseimas do outro lado, bem longe daquela que parecia, mas não era, e fui para a sala de aula.
Estava tudo correndo conforme meus planos, até que quando saímos para o recreio: uma tragédia! Corri em direção a minha lancheira e ela não estava lá, a sala em que estudava a dona do recipiente gêmeo tinha saído antes para o recreio, e ela pegou as minhas delícias.
Como a esperança é a última que a gente mata, pensei que ela havia se enganado e o conteúdo das lancheiras gêmeas era o mesmo, por isso ela não se manifestara, então me dirigi até a outra. Mas, sabemos que isso é impossível, mesmo gêmeos idênticos podem ter personalidades completamente diferentes. Então, ao abri-la entendi porque minha, agora, rival não se queixou de trocar os lanches, quando abri a garrafinha: NÃO! Era café com leite, e para comer um, um não, dois, dois ovos cozidos. Com certeza minha rival trocaria seu lanche por qualquer outro, quando abriu minha cesta de delícias devia ter achado que era seu dia de sorte.
Quanto a mim, fiquei em silêncio. Não conseguia comer aquele banquete ao avesso, aí a tia viu e disse: “coma o seu lanche, sua mãe preparou com tanto carinho para você”. Então eu comi, e bebi também. Logicamente meu estado psicológico influenciou meu aparelho digestivo que não suportou e devolveu, pela mesma via de acesso, tudo o que eu tinha engolido.
Quando mamãe foi me buscar, chorando, contei a ela o ocorrido, no dia seguinte ela fez um escarcéu por mim e minha rival devolveu minha lancheira, claro que depois do recreio.