quinta-feira, 12 de junho de 2014

De repente, Serpentine Gallery, 11 de junho de 2014



De repente entramos, carimbaram a nossa mão, eu nem liguei, nem li o que estava escrito, suspeitando que era uma forma de ingresso da galeria.

Daí, tudo muito silencioso, lemos um pouco do texto de parede, a Julia disse: ela está aí, Val!!!. Tinha uma instrução dizendo para deixarmos bolsas e casacos em uns armários – casaco não tínhamos, pois o dia estava quente, ensolarado e lindo, a galeria fica dentro de um parque, só pra constar.

Entramos na sala, sim, ela estava lá, com assistentes, comecei a perceber, mas vou chamar a todos de artistas, essa foi minha primeira leitura. Algumas pessoas paradas com os olhos fechados, outras com os olhos bem abertos (estas, talvez, eu possa chamar de público), algumas sentadas, outras em pé, outras, poucas, caminhando.

Os artistas iam solicitando pessoas do público para irem a outros espaços das 3 salas. De repente, falei: preciso ler o texto de parede de novo, inteiro, com calma. Fui, li, era aquilo mesmo. Aquilo mesmo que eu já estava lendo da obra, uma proposta de contato, corpos e sensações. Li o carimbo na minha mão, nome da obra e data, seria eu espectadora com os olhos abertos, público então?  

              
Voltamos à sala, caminhei, parei, de repente uma artista me paga pela mão, dedos entrelaçado, caminhamos até outra sala, me sentei numa cadeira, ela pediu que eu fechasse os olhos e ficasse, disse mais alguma outra coisa, bem baixinho, em inglês, não entendi direito. Ela meio que massageou meus ombros, como se me modelasse. 

Sentada, de olhos fechados, de costas para o público, então, de repente, eu era objeto de museu, melhor dizendo, parte de uma obra num museu de arte. Não de uma National Gallery, mas de um museu meio vazio, pois no silêncio, eu ouvia passos, palavras ao longe, respirações...

Depois de uma mistura de emoções e sensações, pensei de novo no carimbo na minha mão, como antigamente os objetos recebiam um número de tombo ou catalogação neles mesmos, pensei nas estátuas vivas de rua, agora, escrevendo esse texto me lembrei do trabalho do Spencer Tunick que participei, também esculturas de corpos, só que de outra forma, como diferentes artistas podem com a mesma matéria esculpir formas diferentes: mármore, argila, pedra sabão e corpos.

Aí, nada mais foi de repente, observei com o olhar antes, agora eu observava com a audição, quando me levantei, perfeita sintonia, eu acho, percebi que os artistas estavam pedindo para a obra ir se desfazendo, por assim dizer, a galeria iria fechar. 

Ah, o trabalho era 512 hours, de Marina Abromivic.


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