sábado, 3 de fevereiro de 2018

Tem um limite

"Como foi que você se apresentou? Conseguiu ficar menos tímida?", perguntei ávida para saber como ela havia se saído no primeiro dia na escola nova, e mordi meu lanche.

"Eles perguntaram o que eu gostava, qual era meu projeto de vida, essas coisas, mas eu não tenho um projeto de vida, não sei se eu quero mais astronomia, eu gosto de tanta coisa, quero estudar tudo pra saber do que eu gosto mais, sei lá...", e mordeu o lanche.

"Mas você disse isso?", dei um gole no meu suco de laranja com beterraba que estava muito doce.

"Não, eles iam ficar perguntando, aí eu só respondi: astronomia, pra encurtar", ela disse, porque sabia que respostas claras e objetivas, podem tirar você de situações nas quais você é o foco das atenções, e tomou a tubaína.

O assunto mudou, de fato, com 13 anos a gente não precisa, realmente, ter um projeto de vida, mas eu perguntei: "mas não tem algo que você goste muito, eu quis muitas coisas, estudei muitas coisas, mas sempre, desde pequenininha, sabia que queria ser professora, eu brincava disso, eu brincava de professora, você brincava de quê?" e outro gole no suco.

"Eu brincava de princesa", deu um gole na tubaína e eu acho que fiz uma cara, um olhar, que deve ter dito algo, "de princesa da terra média, porque eu sou sua filha, tudo tem um limite quando se é sua filha", deu um gole na tubaína e quase engasgamos de rir.

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