Quinze dias de viagem. A Helena é realmente uma ótima
companheira, claro, uma companheira de nove anos, com as crises da infância,
mas excelente, me dando força sempre, ajudando a cuidar do Brandom, pedindo
ajuda quando se cansa, me acompanhando em várias aventuras e descobertas. Gostaria
de saber mais sobre suas descobertas, mas cada uma de nós tem suas próprias
experiências, difícil de expressar.
...
A Helena é sempre uma força, um oásis... E ontem, não
foi diferente. Quando ela se referiu ao chão que os reis e rainhas pisaram (no Hampton Court Palace), “beijar”
esse chão me causou indignação, como minha filha pode falar isso? Ser tão
submissa? Bem, a emoção leva a isso, e ela tem esse ar dramático, emoções
sempre intensas, lua em peixes, latinidade... Ela é assim, como a atriz
principal de uma novela mexicana. Daí, relevei seu comentário. Mas não
conversei sobre isso ainda, um dia o farei, deixei que sentisse e expressasse
suas emoções da forma que quisesse, o que é difícil.
Por
outro lado, voltei ao prumo, aos meus pensamentos sobre minha pesquisa. Eu também
estava deslumbrada dentro daquele castelo! Uma construção antiga, mobiliário
antigo, castelos como os que vemos em filmes e em ilustrações das histórias de
reis e rainhas... Nunca tinha entrado em um. O maravilhamento é inevitável. Mas
não, eu não beijaria aquele chão, mas estava hipnotizada por cada parede, teto
e tapeçaria. Então, parei para pensar naquele espaço como uma casa museu, uma
exposição tradicional, objetos históricos e não problemas históricos, como
passar do maravilhamento à reflexão? Questão que sempre coloquei a minha equipe
de educadores das casas históricas do Museu da Cidade de São Paulo. Enfim, essa
discussão vai estar na minha tese, aqui não é exatamente o lugar para isso.
...
E, falando em deslumbramento, ontem nos jardins do
palácio, novamente me deparei com as árvores que têm me chamado a atenção desde
o primeiro dia, nos parques, praças, quintais... Ontem, num espaço de tempo
sozinha, com meus pensamentos, enquanto as crianças brincavam, vi as árvores
que sempre povoaram meu imaginário, são elas que estão nas ilustrações dos
livros de contos infantis, ou nos filmes sobre esses mesmos contos, árvores
frondosas, grossos troncos, parecem formar rostos e braços, como os Ents que
Tolkien narrou em seus livros.
O
cenário de floresta, ainda que eu não tenha isso a nenhuma até o momento, está
aqui. Realmente, a nossa imaginação, o nosso imaginário, não é livre, é formado
por imagens que sempre vimos e vemos em algum lugar. Todas essas árvores,
diferentes das que vejo no Brasil, são tão familiares, como se eu já as tivesse
visto a vida inteira. Da mesma forma, as chaminés...